04 junho 2025

do despropósito


Não há recuos no tempo. Os ponteiros do relógio avançam ininterruptamente e o mais que se consegue é organizar o caos nos dias que seguem sem um propósito de existência. Não sei para que se quer o propósito. Acordar é um propósito, manter o básico funcional é um propósito, assistir ao nascer e ao pôr-do-sol é um propósito, deixar o universo fluir e ser um leve grão na areia é uma aceitação do todo em que o nascimento nos lança involuntariamente. Pouco importa o despropósito, pouco importa o esquecimento votado no retorno à inexistência, pouco importa porque a rotação e a translação mantêm-se incólumes e pouco lhes importa o meu ser ou o meu não ser. Não há recuos no tempo que passa ligeiro pelas memórias que se desvanecem lentamente no pó cósmico. Não há propósito no existir fora de mim, controlo o tempo avanço por avanço, simplesmente sendo quando ser é tudo quanto basta ao eu na hora que passa após outra hora, controlada quando nada mais me cabe nas mãos. Importa saber do meu tempo enquanto o é, isso importa.

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