28 outubro 2013

Amiúde

Que prazer sentar e conversar
Como se amigos, lembras-te?
A memória perdera o rasto
De tão lotada por quotidianos sem risos soltos.

Onde a leveza do ser?
Conseguimos deixá-la acontecer?
Amiúde, ainda pouco.

O caminho parece certeiro,
Pois se o dia brilha...

Ilustração do Google Imagens

23 outubro 2013

Baile

A menina dança?

Olhos que procuram o íntimo.
As mãos enlaçam-se, sentem-se.
Os corpos adivinham-se e alinham-se.
Como se, mulher desejas-me?
Os pensamentos cruzam-se, coram
E os lábios roçam o cabelo esvoaçante
Embebido num perfume que grita 'Sou tua!'.

Sim, danço.
Ilustração do Google Imagens

22 outubro 2013

Escape

O Universo povoou-se de infinitos planetas.
Ocupei um a que chamei de meu
E conduzi-o por órbitas não traçadas.

Na sorte, perder-me-ei por aí.

Galáxia Via Láctea. Imagem NASA

21 outubro 2013

Como de ninguém

A borboleta entrou em contra-ciclo,
Transformou-se em lagarta,
Beleza perdida e retornada,
Primeiro ao casulo, minguada a ovo depois,
Metamorfoseada, enfim, no sonho primordial
Que antecede e impulsiona a criação.

Gostei de ti.

Ilustração Google Imagens

20 outubro 2013

Passagem

Algures entre o deleite dos corpos,
Martiriza-se a alma.
Entre o ficar e o ir,
A dor e o alívio amalgamam-se.

O amanhã é certo e desejado.
Deixá-lo acontecer.

A vida espera.

13 outubro 2013

Recomeço

Gargalhamos com gosto
Até o olhar se cansar de dissimular
E tornar-se sério de desejo,
Profundo, íntimo,
Ardente de antecipação.

Rostos corados,
Sem jeito no gesto,
Assim, meio adolescentes
Em caminhos por desbravar.

Numa espera impaciente.

O sinal que tarda.

Ilustração do Google Imagens

06 outubro 2013

Jogo de paciência

Que tens?, perguntas.
Nada, não é nada..., respondo.
Sempre a mesma coisa!, resmungas.
E as palavras retidas na garganta
Afogam-se em lágrimas.
Ficam-se.
Que sensível!, abraças-me.
Deixa, está tudo bem., mimas-me.
Não está nada!, solto-me.

Estes nadas sempre tão cheios de tudo!

Mulheres!, pensas.
Mas não dizes.

24 setembro 2013

A Mulher-Maravilha

Tem coragem e olha-me nos olhos
Sem hesitações, temores ou intenções escondidas,
Mostra-te na tua verdadeira pele...
Ou vai-te, corre, foge do tiro certeiro
Deste arco treinado nos confins da lenda
Para te afugentar, homem, desta terra guerreira!

És homem vulgar, vês apenas como sou bela
E persegues-me com a falsa superioridade
Do macho dominador da fêmea.
Ignoras a Princesa, a amazona grega,
Que em cada pensamento, resolução e acção
Trava heróica batalha pela conquista do dia,
Da vida!

Tem coragem e aprecia-me o feito:
Sou Diana!
E uso os meus super-poderes no domínio do mundo que me rodeia,
O único que existe.


Imagem DC Comics: Wonder Woman

18 setembro 2013

A cárcere mental

Cheira mal nesta prisão escura
Povoada por monstros voadores
Que entram e saem a alta velocidade
Pelos estreitos das grades do buraco,
Alguns chamam janela mas eu não
Não abre a visão para o mundo lá fora.
Houve o dia do voo picado travagem falhada
Marcou os dentes afiados neste braço
O direito, a sangue negro desenhados.
Aos Domingos mas só aos Domingos
E se houver Sol mas só se houver Sol
O assombramento condescende até à borda
Por um momento breve quase suficiente
E saio à rua compro o jornal bebo o café
Pontual na hora sagrada do agrilhoamento
Pensamento recolhido à cela da vida impedida

16 setembro 2013

Acasos

Corre, corre, corre,
Bate, bate coração,
Corre, corre, olha
Bate numa tentação
Corre, olha, olha
É grande a atenção.
Pára, alonga lentamente
Em curta ponderação.
Um sorriso elogiante
Quase que fala mas...
...Mas não!

10 setembro 2013

Rimas da má sorte

Amei-te e com isso desejei
Arriscar um pouco da sorte,
Armar-me em mulher forte
Abrir o segredo onde guardei
As rimas que o íntimo me ditou.
Agora que já soltas e felizes,
Agora esse amor também voou,
Assim que me despi, ele finou!

07 setembro 2013

Inebriante

Celebro o teu corpo despido
Com um copo de vinho.

Toco-te de lés-a-lés,
Lentamente,
Com a ponta dos dedos
Onde os aromas do amor
Ainda permanecem
E entontecem...

Como me tornaste assim,
Insaciável?

Insuportável.

ilustração do google imagens

04 setembro 2013

O paraíso na terra

Não há conversa,
Não é preciso,
Não se quer!
Atrapalha a urgência
Da tua pele quente,
Transpirada,
Salgada…
Percorro-te ao centímetro
Com olhos, mãos, boca,
O corpo todo…
E no instante exacto,
No ponto da perdição,
Dissolvida num lago de sabores
E odores,
Já noutra dimensão,
Nesse instante final,
Enlaças-te em mim
Num encaixe
Mais-que-perfeito.

Divinal.

28 agosto 2013

Sol

Maravilhosa estrela materna,
Gravitamos ao redor da tua saia
Como crianças indefesas
Dançando em feliz inconsciência.

Vemos-te e, sacrilégio!,
És tu quem nasce, suave, fresca ainda
Trazes nas mãos a magnificência da manhã
Como uma oferenda imerecida.

Cresces em incandescência, queimas a vista,
Os pensamentos entorpecem,
Dominas os corpos e os sentidos
Num reinado breve, condenado.

Vemos-te e, sacrilégio!,
És tu quem vai morrendo, lentamente,
Desfazes-te num céu ruborizado
Pelo engano permanente.
Amanhã trarás um novo dia.

Assim aparenta.

21 agosto 2013

Provocação

Sinto o teu corpo por perto,
Tão perto que o calor da tua respiração
Aquece o frio da minha pele.
É uma aproximação suave,
Não demasiada, suficiente apenas
Para, lentamente, colares os teus lábios
Ao meu rosto.
Leve, levemente, tocas-me com a tua língua
Como se por um atrevido engano.
Dizes um rápido 'Adeus, até amanhã'
E sais.
Levas contigo o meu sabor salgado,
Deixas ficar um estado agitado.

Está lançado o mote.

Até amanhã.

20 agosto 2013

Fala-me.

Aproxima esses lábios pedintes
E seduz-me.

Toca-me ao de leve, um quase nada.


Fecho os olhos para melhor voar.

Sinto o vibrar do teu murmúrio barítono, másculo,
Sobre a fronteira macia e sensível da orelha.

Continua, peço. Diz-me. Mais qualquer coisa.


E uma desejada onda de calor cresce,

Compassada com a tua voz grave, possante.

Entoas palavras que já não percebo

Nem interessa.

Continua.

14 agosto 2013

A longa viagem da mamã (III)

Deixo,
Aqui,
Contigo,
O meu coração.
(abraço)

Deixo-o.
A confortar-te.
 (beijo)

Não chores.
 (lágrima)

Colinho?
(sorriso)

É para sempre, sim.
Sem idade.
Fecha o olho.
(fecha, fecha)

E sente.
Como te amo.
(sentes?)

A mamã está aqui.
(no teu coração)

Não há que enganar.

A longa viagem da mamã (II)

Vou partir.
Dizem que é longe e o tempo longo
Mas a distância e o tempo são pura ficção,
Só existem na ausência.

E eu estarei sempre bem perto de ti,
Buscando o pormenor da tua existência.

Que letra e que número aprendeste na escolinha?
Que angústias, alegrias, que zangas no recreio?
Vou ralhar-te, mandar-te para a cama,
Encher-te de beijos de boa-noite.

A mamã parte, mas só um bocadinho.
E quando voltar, vou apertar apenas um pouco mais
O abraço que por cá te deixo, pronto a usar.

Filho, nada há a recear.

P.S.: Come a sopa toda.

A longa viagem da mamã (I)

Olho-te como se pela primeira vez.

Quero reter todos os teus detalhes:
Os olhos grandes e brincalhões,
O sorriso fácil e inocente,
O passo pesado sempre apressado.
Não tens tempo a perder,
Imaginação que fervilha e saltita
De brinca em brinca.

Mãaee!! Vem veeer!!
Ouço-te como se pela primeira vez, criança.

Quero reter-te, ao detalhe,
E fugir da saudade
Até ao meu regresso.

Beijo.

11 agosto 2013

Mergulho

É uma guerra de poder, mais,
P'la liberdaaaadeee!
Desliza na crista, olh'á ooonda!
Atira o corpo afiado, cort'á ooonda!
Uma mais,
P'la liberdaaaadeee!
O domínio ou a fantasia?
Tanto faz.
Corpo sacudido, perdido em turbilhão.
Puro prazer!

Serão de Verão

Vem, Estio, sim,
Com o teu vigor,
Em noite limpa e abafada.
Dispo-me para ti,
Despudorada.
A pele queima
A frescura dos lençóis,
Numa carícia apetecida.
Não te conheço.
Invento-te um corpo.
Abro a janela
E o infinito aplaude
A vida no seu monólogo!

02 julho 2013

Esplanada na praia

A brisa sopra,
Liberta cabelos
Que se escapam do boné.

Cheira a mar
E à vida
Que se sente
No momento
Presente.

Escutas.

És amiga.

30 junho 2013

02 março 2013

A Promessa

Margarida, linda Escuta,
Com o teu lenço perfeito,
É com olhos de orgulho
E de imenso respeito
Que assisto à tua Promessa.

Minha filha,
Amor do meu peito,
É solene este momento,
É compromisso e crescimento.
Que o teu caminho seja feliz:
Boas acções, amizades e aprendizagem.

E nunca te esqueças: ao perderes o Norte,
Sempre serei a tua bússola e a tua sorte!

Com um grande beijinho,
da Mãe

14 fevereiro 2013

Festividades

Ó bailarico! Ó rico!
Dá-me cá a tua mão,
Mexe os pés, abana a anca,
Rodopia! Ai que alegria!
Pois sabes que dia é?
É dia do meu coração!


Ao querido e divertido M.


11 fevereiro 2013

Convite

Traz um tinto
E deixa-me cozinhar para ti,
Mimar esta amizade que tanto prezo.

No tacho, já crepitam os temperos.
Espalham aromas que te abraçam
E dizem: fazes parte desta família,
Gostamos de ti.

Por favor, enche o prato, bebe um copo.
E sê Feliz.


Com um grande beijinho de parabéns.

20 janeiro 2013

Ventania

O vento passou furioso,
Despiu as ruas e atirou ao chão os despojos.
A casa temia e tremia, receosa dizia:
Fica por cá, não vás!
A revolta terá chegado aos elementos,
Talvez que tenham sentimentos...

Afinal o que veio este vento berrar?
Talvez a sua empatia!

Está com os tempos de agonia.

13 janeiro 2013

Noite bairrista

Os saltos picam a calçada escorregadia
E, passo a passo, movem o tempo.
Involuntariamente,
Levam ao seu ritmo a nossa vida.

Ofegantes,
Sem olhar ao que fica.

Passou.

07 janeiro 2013

Nervoso miudinho

Atravessar
Pé um depois o outro
Lentamente
A consciência socorre
Respira diz
É fundamental
Lentamente

Passei?
Enfim...