74 A loja indiana

A loja transpira os aromas das especiarias
Frascos com rótulos perfeitamente alinhados
Pulseiras e vestidos coloridos do outro lado

73 C(o)umprimentos

'Menina Clara, tenha um muito bom dia!'
O senhor Harshal abre a loja a sorrir,

72 Ao trabalho

E vai ela, leve e alegre,
Vai à sua vida

71 O despertar da Vila

A Vila Pinto acorda e espreguiça-se
Para uma nova semana que nasce.
Os vizinhos reformados passeiam cães
Ainda em pijama e chinelo.

70 Segredos

Os pensamentos transbordam da mesa do pequeno-almoço
E inundam a cozinha carente de palavras faladas.

69 Amor de mãe

Os dentes cerram-se com barulho
Ao enterrarem-se na torrada lentamente,

68 Atenções

Toda a cozinha se perfuma
Com os aromas do acordar...

67 Dona Bia começa o dia

A mente exaltada salta da cama enfeitiçada
Para se esfregar e toda bem desinfectar
Debaixo de forte torrente de água quente!

66 Descomprometimento

Roma vive ali mesmo, na Vila.
Leve, não exige nem dá

65 Entendimentos

Ouve o bater da porta
Ainda o sol não se espreguiçou...
Quem será que hoje por aqui andou?

64 Pedra

O amor em desespero
Atinge a janela desejada

63 O pecado original

Benzeu-se, Dona Bia, ainda afogueada
'Credo!' que já nem estava recordada

62 O amante imaginado

Uma pedra atingiu um vidro numa janela!
Soou distante,
Na rua, noutras vidas, assim o quis.

61 Memórias

O passado entra-nos pela vida
Queira-se ou não.

60 Regresso ao pequeno-almoço em casa de mulheres

Bem torrada a torrada
Manteiga abundante
Bem espalhada

59 A longa espera de Bia

Sete anos de solidão
Consolada com cartas de amor
Esparsas

58 Juras de amor

Está de partida, o soldado,
Parte para a guerra
Menos um filho da terra
Mais um coração destroçado

57 Beijos

Como gotas de água que pingam na fonte
Breves, leves, frescas, muitas,

56 Encontro

Hoje vem só saber
Se Bia
O há-de querer.

55 À moda antiga

Espero por ti.
Sento-me ao fresco
Vendo passar um e outro.

54 O acordar da festa

Como se saísse de um sonho
Bom
Que se quer prolongar
A aldeia acorda
E regressa, lentamente, ao labutar

53 Ó Senhora minha (fado)

Ó Senhora minha
Acalma esta dor
Recebe a alminha
Aceita uma flor

52 Bernardina, a fadista

O céu negro está brilhante de estrelado
Como brilhante está o seu negro vestido
Bernardina lança o canto, lindo fado

51 A noite de fados

A Senhora mostra-se a descansar na porta da igreja
Aguardando calmamente o desabrochar das cantigas,
Está coberta de pedidos, que nos valha e nos proteja,

50 Sesta

Os manos entram em casa derreados
Da esturrina obrigada pela tradição,
Que o senhor padre não encurta a oração

49 A Procissão

O calor vem do alto e ameaça
Lançar brasas sobre as cabeças
Quando a Senhora sai à rua

48 A Missa

A igreja é fresca e cheia de flores, perfumada,
Sente-se a força do divino na madeira encerada...

47 Bia vai à Missa

Que linda a banda, toda aprumada
Passos certinhos pela rua, toca afinada.
Bia aparece à porta toda arranjada

46 António vai à Missa

O amanhecer acontece forte
Com o ar cheio de promessas
Por entre as costelas doridas

45 Arruada da banda

Cabeças assomam-se à janela,
Passos apressam-se para a rua,
Ouvem-se ao longe tambores

44 Ah, valente!

António, o nosso jovem e bravo soldado,
Em breve seguirá para a desolada guerra
Mas por agora é vê-lo de peito inchado