23 dezembro 2014

Ginjinha

Está frio no Rossio,
Gela o sangue
E o corpo arrepia:
- Sai uma ginjinha!
Tão doce e picante...
Mesmo o que eu queria!

11 dezembro 2014

Volátil

Sofre-se muito
A vida dói a doença dói
Socorre-se de uma realidade paralela
De um amor onde se conseguir
A suportar o insuportável
A acreditar no improvável
Até que o cansaço de tanta dor
Esgota a vontade
Numa vitória do corpo sobre a mente

Tudo o que era deixa de ser
Volatilizado em frágeis memórias
Secas de lágrimas

09 dezembro 2014

Martinis

Fecho os olhos e tudo gira gira gira
É alta a rotação
Como se a vida me tivesse embebedado
Com bebidas finíssimas
Em pequenas e repetidas quantidades
Dissimuladamente atordoada
Ao longo de um longo tempo
Receio abrir os olhos e o mundo estar direito
Sai mais um só uma pedra de gelo
E só uma casca de limão

08 dezembro 2014

Apatia

Queria que a dor viesse forte como tem que ser
Lancinante a cortar respirações
Sofria o momento em lágrimas como tem que ser
Gritos e libertações
Acontece porém esta estranheza não teria que assim ser
Este fluir vazio de vibrações

Os sinos anunciam-te mas eu deixei também de ouvir
Parece que é assim que afinal terá que ser

07 dezembro 2014

O luto impedido

Afinal, sempre o passado chegou.

Anunciou-se a caminho mas parecia muito longínquo
Daqui deste presente mutilante com os seus minutos de chumbo.

Tive dúvidas.
Quis ajustar o impossível, negar-lhe o percurso.

Afinal, sempre já toca. Insistentemente.

E eu, nada.
Espreito-o, que o sei aí, mas não o recebo.
Não lhe abro a porta.

Sou a filha. Tenho os meus direitos insanos.

17 novembro 2014

Arrebatamento

Sais da dor e dormência da doença
Por um instante breve de instinto primário

A fêmea defende a cria até no último suspiro

Ferros

Como é difícil soltar palavras
Tantas e tantas vezes à beira- som
Até um dia em que a barreira permeia por um instante
Suficiente apenas
Para um sussurro que baste

Gosto muito de ti, mãe

04 novembro 2014

A fraqueza do imaginário

Distingo-te mal por entre lágrimas correndo compulsivamente
É uma imagem distorcida consegue-se imaginar o que se quiser
Por isso continuo a verter ininterruptamente e a voluntariamente
Metamorfosear a devastação que dolorosamente te invade
Em contra-minha-vontade e assim choro choro enquanto tiver forças
Para te manter em campo de visão inventado mas necessário

Obrigo-me a acreditar nesta mentira sou fraca

02 novembro 2014

Busca

Indaguei p'lo -Próprio
E não tive notícias!

Fui à padaria,
Aos correios, à mercearia,
Ao hospital,
A todos questionei,
Mas, ai!, que ninguém dele soube
E, assim, lá continuei!

Sigo a caminho da polícia,
Pois a quem mais?,
Peito ofegante pelo passo apressado!

Ora esta!

Ali me apontam um banquinho,
No canto escuro,
Embaraçado...

Vou lá num suspiro.

Que susto me pregaste, Amor-!
Meu desgraçado!

30 outubro 2014

Choro

Passo a mão pelo teu rosto já demasiado magro
E rio.

Dói-me todo o ser, não saibas.

21 outubro 2014

Verniz

Quando a vaidade se derrota
O que fica da pessoa?

Sombras distorcidas.

O tempo ainda existe

Observo esta planície vermelha
Que emoldura o meu destino.
Numa ânsia lenta e amedrontada,
Vai decaindo,
Um pouco menos que estática,
Tornando-se noite.

Que longa é a espera.
Tão dolorosa.

06 outubro 2014

A vida em inconformidade

Não concebo a morte em ti.
Nego-te essa realidade
Ainda que te esculpida por onde quer que onde.

Não, não te concedo a mortalidade,
O vergar.
Procura as tuas possibilidades,
Umas quaisquer, por onde quer que onde.

E vive.
Por favor... vive...

Onde outro amor assim?

04 outubro 2014

Alegria dos meus olhos

Espero-te.
A melhor roupa, batôn, cabelo mais ou menos alinhado,
Trato-me para o teu elogio.
Sei que me queres no meu melhor,
Ainda que sendo já bastante mau.
Pouco importa.
Atitude, a atitude é tudo.
Eu sei.

E um brilhozinho nos olhos acende-se
Ao ver-te chegar, alegria.

O demónio

Aceitar.
Ou a difícil arte de caminhar a par com a vida.

03 outubro 2014

A busca da normalidade

Às vezes esqueço-me e permito-me um momento.
É uma demanda, não sei se inconsciente, não sei se propositada.
Preciso da normalidade, tudo em mim assim berra.
Raios partam quando a culpa me devolve a memória
E a empurra em linha recta até ao inferno!

Ascensão

Olho o espelho e não me reconheço
Nas rugas, na papada, nas olheiras,
A pele enfim flácida...

Envelheci.

A doença ganhou terreno,
O corpo cedeu.
A vontade não chega.

Espalho um pouco de creme no rosto,
Hidrato a dignidade.

01 outubro 2014

Embora!

O agora apossa-se do meu todo,
Lento e acutilante,
Semeia malignidade corpo fora.

Devolve-me o passado! Os quereres do futuro!
Leva contigo esta dor alucinante.
Vai-te, agora! Embora! Embora!

30 setembro 2014

As cruzes

Sofre-se.

A dor está em todo o lado,
Até em lado nenhum.

Preenche dias e noites
Que tão longos,
Tão iguais,
Sem propósito a aparentar...

Mas, sim. Vive-se.

E isso importa.

29 setembro 2014

Por aí

Procurei o som do silêncio
E encontrei a existência...

Estranha que é,
Sem as vestes da inconsciência.

Ansiedades

Os teus males afligem-me como meus males.
Anseio-te bem, entre náuseas de padecimento,
O meu e o teu.

Como é tão visceral esta ligação?

A impotência mata-me o espírito e o corpo grita.

O Mundo torna-se insuportavelmente grande
E eu infinitamente pequena...
Não haverá um outro útero onde me recolher.

Luto o luto.
Luta também!

28 setembro 2014

Ica

Não te chorei.

Empurrei a tristeza para um canto escuro
Mínguo
E esqueci-o.

Assim como gente grande.

Fingi.

Mutante

Não quero esta realidade.
Rejeito-a frontalmente,
Atiro-lhe um NÃO à cara.

Ainda assim ela persiste,
A manhosa!

Amigo

Hoje saí à rua e trouxe um pedaço de ti.
Agora, vou saborear-te.

Abraço.

24 setembro 2014

Voltei?

Volto a ti.

Uma e outra
E repetidas vezes,
Em carícias que se esfumam
No momento exacto.
Na verdade, não sei
Se a ti voltei,
Tal inconsciência no acto.

Calhando, sonhei.

Imagem do Google

23 agosto 2014

Sim-senhora

Observo a curva
Atentamente,
Na meia-luz forçada
Ao ambiente.
O olhar percorrendo
Brilhos e sombras na pele nua,
O ritmo da bateria forçado
Ao ambiente.

E a curva assombra...

Como és tão bela?

22 agosto 2014

Sabores

É um toque leve,
Um quase nada.

O teu lábio inferior 
Provocador,
Suspenso
Sobre o meu lábio superior.
Por um segundo,
Antecipando o sabor
Da minha boca,
Excitando o meu desejo.

E o encontro acontece.

Quente, húmido, ansioso,
Um quase tudo.

14 agosto 2014

Mulher fácil

Sou mulher fácil,
Forço o amor
Onde quer que aparente.
Pois se é preciso respirar!

Fantasias

O teu olhar penetra-me e queima.

Não acompanha o frio dos lábios que se movem
Numa dança de palavras.
Uma fantasia, mais uma apenas,
A aquecer a solidão...

11 agosto 2014

Yes, I do

Os teus dedos procuram pelos meus
Numa carícia lenta,
Saboreando no toque macio
O sentido da presença
E oferecendo-se descaradamente.

Aceito.

Palmo e meio

Chinelas freneticamente rua abaixo.

Ganhas balanço,
Mergulhas no mar,
Gela-te o corpo feliz.

Gritas à onda,
Gritas por mim
E sorris.

Aqueces-me de amor, meu petiz!

Sal

A noite está fria.
Sopra esta brisa salgada sobre os seios já duros
Numa carícia procurada.

Não as tuas mãos, não a tua boca...

A rebentação que vai e vem em pés desnudos,
Ainda assim não se arrefece este corpo.

Já de louca...
Google imagens

Estado lunar

A Lua cresceu, fez-se grande,
Singular...
Redonda e muito branca,
Resplandecendo contra o nocturno do céu.

Solitária.

Eu.

23 julho 2014

Foi

Ouve-se o grito:
Dissolveu-se!
E a noiva sai da igreja
Pela mão do sentimento desfeito.

Transporta-a um vestido já exausto.

19 março 2014

Um dia

Digo-te.
O espelho dá-me o retorno do teu traço,
O gesto, a imitação da tua mímica,
O olhar, a visão de um mundo confortado
Pela certeza do teu colo.

Digo-te.
A pertença é um dado de todos os dias.

Mas já que dizem que é hoje um especial,
Pai,
Deixo um beijo.

Libertação

Abaixo as expectativas!

Roubam o sabor natural dos momentos
Frescos e acabados de colher,
Com tudo em aberto para oferecer!

Viva a vida ao tique-taque do rosário do tempo!