28 agosto 2013

Sol

Maravilhosa estrela materna,
Gravitamos ao redor da tua saia
Como crianças indefesas
Dançando em feliz inconsciência.

Vemos-te e, sacrilégio!,
És tu quem nasce, suave, fresca ainda
Trazes nas mãos a magnificência da manhã
Como uma oferenda imerecida.

Cresces em incandescência, queimas a vista,
Os pensamentos entorpecem,
Dominas os corpos e os sentidos
Num reinado breve, condenado.

Vemos-te e, sacrilégio!,
És tu quem vai morrendo, lentamente,
Desfazes-te num céu ruborizado
Pelo engano permanente.
Amanhã trarás um novo dia.

Assim aparenta.

21 agosto 2013

Provocação

Sinto o teu corpo por perto,
Tão perto que o calor da tua respiração
Aquece o frio da minha pele.
É uma aproximação suave,
Não demasiada, suficiente apenas
Para, lentamente, colares os teus lábios
Ao meu rosto.
Leve, levemente, tocas-me com a tua língua
Como se por um atrevido engano.
Dizes um rápido 'Adeus, até amanhã'
E sais.
Levas contigo o meu sabor salgado,
Deixas ficar um estado agitado.

Está lançado o mote.

Até amanhã.

20 agosto 2013

Fala-me.

Aproxima esses lábios pedintes
E seduz-me.

Toca-me ao de leve, um quase nada.


Fecho os olhos para melhor voar.

Sinto o vibrar do teu murmúrio barítono, másculo,
Sobre a fronteira macia e sensível da orelha.

Continua, peço. Diz-me. Mais qualquer coisa.


E uma desejada onda de calor cresce,

Compassada com a tua voz grave, possante.

Entoas palavras que já não percebo

Nem interessa.

Continua.

14 agosto 2013

A longa viagem da mamã (III)

Deixo,
Aqui,
Contigo,
O meu coração.
(abraço)

Deixo-o.
A confortar-te.
 (beijo)

Não chores.
 (lágrima)

Colinho?
(sorriso)

É para sempre, sim.
Sem idade.
Fecha o olho.
(fecha, fecha)

E sente.
Como te amo.
(sentes?)

A mamã está aqui.
(no teu coração)

Não há que enganar.

A longa viagem da mamã (II)

Vou partir.
Dizem que é longe e o tempo longo
Mas a distância e o tempo são pura ficção,
Só existem na ausência.

E eu estarei sempre bem perto de ti,
Buscando o pormenor da tua existência.

Que letra e que número aprendeste na escolinha?
Que angústias, alegrias, que zangas no recreio?
Vou ralhar-te, mandar-te para a cama,
Encher-te de beijos de boa-noite.

A mamã parte, mas só um bocadinho.
E quando voltar, vou apertar apenas um pouco mais
O abraço que por cá te deixo, pronto a usar.

Filho, nada há a recear.

P.S.: Come a sopa toda.

A longa viagem da mamã (I)

Olho-te como se pela primeira vez.

Quero reter todos os teus detalhes:
Os olhos grandes e brincalhões,
O sorriso fácil e inocente,
O passo pesado sempre apressado.
Não tens tempo a perder,
Imaginação que fervilha e saltita
De brinca em brinca.

Mãaee!! Vem veeer!!
Ouço-te como se pela primeira vez, criança.

Quero reter-te, ao detalhe,
E fugir da saudade
Até ao meu regresso.

Beijo.

11 agosto 2013

Mergulho

É uma guerra de poder, mais,
P'la liberdaaaadeee!
Desliza na crista, olh'á ooonda!
Atira o corpo afiado, cort'á ooonda!
Uma mais,
P'la liberdaaaadeee!
O domínio ou a fantasia?
Tanto faz.
Corpo sacudido, perdido em turbilhão.
Puro prazer!

Serão de Verão

Vem, Estio, sim,
Com o teu vigor,
Em noite limpa e abafada.
Dispo-me para ti,
Despudorada.
A pele queima
A frescura dos lençóis,
Numa carícia apetecida.
Não te conheço.
Invento-te um corpo.
Abro a janela
E o infinito aplaude
A vida no seu monólogo!