Páscoa

Um alegre coelho gigante saltitou do cimo da prateleira
e encheu o cesto das compras abanando as suas orelhas.

Ainda mulher (6)

Ainda será que sou neste corpo que se disfarçou?

Já nem sei de mim, sei lá por onde?, vejo mal

escondida por debaixo de múltiplos inchaços,

Ainda mulher (5)

Descubro um corpo novo diariamente
a transformação recebida

Filtro

O tempo foge saltitando no coração
sem razão

Domingo no parque

o sol luminoso irradia alegria sobre as árvores
há gritos e risos da criançada aqui e acolá pendurada

Ainda mulher (4)

entre o quebranto e o arquejar, nem sei de mim perceber
o corpo a falar alto sobre a multiplicação do ser,

Ainda mulher (3)

Canso-me
estranhamente penso

O meu cão, ão!, aõ!

Oiço o ladrar e vejo a longa cauda a abanar,
frenética!,

Ainda mulher (2)

De um corpo se fazem dois numa metamorfose
degustada

A luz

Tenho um lado negro em mim que é
delicado como uma jarra da mais fina porcelana

Ainda mulher (1)

há esta renúncia ao corpo que se empresta
à gestação

Amizade

Palavras soltas, fofas e frescas,
saltitando de rima em rima

Brincadeiras no parque

O dia solarengo convida a brincar na rua

e o parque chilreia na alegria da infância:

Ser mãe (47)

chega o momento em que a festa é maior.

os dias rodopiaram
entonteceram o Sol