31 julho 2017

Convidado

Dona Bia anda numa azáfama
Nervosa, mexe os tachos do jantar
A mesa ainda não está posta
E na sala uma visita a esperar.

Olha de novo, como se a certificar,
Ainda lá está, o rapaz parece ansioso
Leonel, assim se veio apresentar
Todo simpático e muito afectuoso.

Sem saber o que fazer,
Acrescenta um prato na mesa
A mais que o habitual...

Não há-de fazer mal!

30 julho 2017

O colo que fica

O pai tudo vai sabendo e é grande amigo,
Pois como não o ser se a vida é toda ela
Micaela!

29 julho 2017

Bela mas...

Oh, Micaela! E se é esta mulher bela!
Um remoínho vai no seu interior:
Pois que não há-de acertar ao amor!
Hoje lá vai a mais uma escapadela,
Vem da net, uma surpresa este encontro:
Parece uma lindona nas suas fotografias
Mas o photoshop faz as honras destes dias...

É difícil amar na correria da vida presente,
Mais ainda quando se ama de forma diferente...

28 julho 2017

O amante

Roma é um pintas todo vestido a cabedal
Gel nunca é demais e a melhorar o visual
Junta umas correntes, ladies muita atenção
Que por aqui vai passar o maior engatatão!

Sem queixas, por todo o lado se ouve suspirar
'Que beleza de homem e que bem sabe ele amar!'
A cama é-lhe oferecida e não deixa a fama em vão
Mantém bem escondido o que lhe vai no coração...

Micaela povoa-lhe os sonhos: tão deslumbrante!
Se ela o quisesse mudava a vida nesse instante!
Mas sabe-a fria, e mesmo sem conseguir entender,
Tem por certo que este amor nunca irá acontecer.

Assim, põe a máscara e toca alto o metal da pesada
Desligado o sentimento, prepara a próxima noitada!

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Relembrando:
http://balcaodopoema.blogspot.pt/2017/01/roma-o-homem-objecto.html

27 julho 2017

Esclarecimentos

Espreita ansiosamente o portão
À espera das novidades que virão...

Confidências entre as duas quase manas,
Micaela agarra Clara e sem filtro lhe questiona:
Que loucura aconteceu na noite passada?
Com o Roma, mostrar-se por aí abraçada!

E Clara sorri ao lembrar,
Teve o seu momento de leveza...
Tudo aconteceu à superfície
E já tomou o seu banho de beleza!

O ciúme ferve no ar
E Micaela ruborizada
Não consegue disfarçar
Que a ama sem ser amada...

Ah! Que vida! Que trocas assim se dão!
Roma quer Micaela mas ela tem esta paixão!
Clara quer Leonel mas partiu-lhe o coração!

Melhores dias virão!

26 julho 2017

Amizade

As amigas pelo tempo assim continuaram
De criança a duas lindas adultas passaram
Mantendo-se sempre alegres confidentes
Micaela protege a sua doce Clara fielmente

25 julho 2017

António é pai, finalmente!

Clara traz o remorso entremeado de felicidade
Encontrar-se com seu pai é crime com gravidade
Se a mãe sequer o sonhasse enorme desgosto teria

Saber de seu pai era um desejo que escondia
Poder abraçá-lo, falar da vida e do que sentia
Tantos anos depois, se tornou feliz realidade

E segredo bem guardado, a bem da humanidade...

24 julho 2017

Fim do dia

A tarde passou e mais um dia a terminar,
O regresso do trabalho faz a Vila animar.
Na loja de Harshal o burburinho cresce
À medida que a sua clientela aparece.

É preciso a todos prover, saber orientar
De forma a não deixar o jantar atrasar...

23 julho 2017

O presente

Há que deixar o passado descansar
Pois bastante se andou a recordar:
Querer compreender a vida presente
Nos caminhos trilhados pela gente.

E assim o dia de hoje se fez...

22 julho 2017

A vida que passa

As décadas galgam o céu
Sem dó, a vida acontece
Intensa, preocupada, cheia
Esquece-se a origem
O bairro, a aldeia,
Reza-se em gratidão
Mais que em temor
Dos filhos a boa criação
E em silêncio partilhado
Se solidifica
Um platónico amor.

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Relembrando:
http://balcaodopoema.blogspot.pt/2017/04/regresso-ao-comeco-do-dia-na-vila-pinto.html

21 julho 2017

Decisões

Desce as escadas devagar
Levando o ritmo do seu pensar,
Medindo a actual realidade,
Decidindo da vida com verdade.
Percebe os longos olhares,
Os cuidados, os muitos agradares
Mas veste por completo de escuridão,
Afasta novas dores do coração...
Outro degrau, satisfaz os dias
Com outras renovadas alegrias.
Decide assim a vida tão nova
Ao recuperar de tão grande sova!

19 julho 2017

Rebuçados

Micaela toma a pequena Clara pela mão
Domina a loja abundante  onde vive
Escapam-se entre vestidos e pulseiras de latão,
Directas ao desejo cochichado no momento.
Espreita a distracção fingida de seu pai
Trepando p'ra cima de um velho caixote
E tira dois grandes rebuçados de um pote!

Saem sorrateiras e com a boca já a adoçar
Vão correr pela Vila atrás dos gatos vadios
Gargalhando e tentando não se engasgar!

18 julho 2017

A Costureira da Vila Pinto

Uma casa requer sustento
E deixando de lado o lamento
Bia, que sabe tão bem costurar,
Põe um  anúncio para trabalhar.

Logo aparecem várias clientes
Que procuram um vestido decente:
Ouviram na loja do Harshal
Que aqui o talento é especial.

Assim se vai construindo um nome.
Dona Bia, a Costureira, pouco dorme
É escasso o tempo para dar vazão:
Alarga aqui a saia, dá ali um apertão...

As senhoras vêm e andam muito contentes,
Aqui conversam e bebem doce chá quente,
Confidências, muita risota e é linda a  moda
Neste canto há conforto, ninguém as incomoda.

A Costureira da Vila Pinto é feliz!
Pelo menos, é o que por aí se diz...

17 julho 2017

Clara

A tempestade passou por sobre a Vila
E seguiu por diferente caminho
Abriu-se o céu ao Sol e aos outros Astros
Transbordante de fé e de carinho,
O Universo à escuta do choro, jubila...

Ei-la, enfim, a criança nasceu!
E todo o mal do mundo desapareceu!

16 julho 2017

A maternidade

Podia chorar o abandono
Mas minha filha por nascer
Faz-me mesmo assim sorrir,
Dá-me um grande bem querer.
Por ela desde já me apaixono,
Clara, será o seu nome a decidir.
Mãe e filha unidas num caminho
É doce esta ilusão que acarinho.
Toco a barriga, sinto-a mexer!
Minha Clara!
Voltarei a ser feliz neste viver!

15 julho 2017

Onde estás, Alentejo?

O horizonte vermelho, distante, plano
Povoa os sonhos
Por entre sobreiros, montes, a mula,
Risos infantis que se espalham
Sobre os girassóis
Num sobressalto...

Uma mota acorda o dia
E Bia.

14 julho 2017

A vida a sós

Falta o chão, o cheiro, o calor
Do ninho de amor...
A solidão traz a recordação
E a saudade
Abraça o doce coração!

13 julho 2017

Zanga

Traidor! Ai! Meu Deus! Que dor!
Grito já com o coração no chão!
António! Que desgraça se passa!
Como amar sem te poder olhar?
Mentiroso este viver, é só sofrer!
Arruma a tua parca mala e abala!
Quero vida melhor! Quero amor!

12 julho 2017

Confronto

Boas noites ou má sorte
Aqui o venho encontrar!
Que anda você a fazer?
Tem a mulher a chorar!
Sendo a vontade morrer,
Tudo sabe e faz-se forte!

11 julho 2017

Traições

Aí vem ele, vem sorrindo, vem dela!
Assim é visto por detrás de cada janela!

Não se sabe por quem foi hoje o amar
Mas diferente de ontem e, certamente, de amanhã...
Uma linda casa se dá assim a desgraçar!

10 julho 2017

António perde-se

Era morena, piscava um olho a sorrir
Rebolando a anca ao picar do passeio
Sobre um salto fino a conquistar homem,

E o homem foi.

09 julho 2017

Intocável

O corpo sente o impulso
Do animal enlouquecido
O cheiro da fêmea queima
Mas o ventre tornado sagrado
Arrefece o toque
Como quem grita um insulto...

08 julho 2017

A noite

Uns olhos amarelados
Brilham na escuridão
Ouvem-se ao longe os tiros
Ou talvez seja só o coração
Uma catana corta o ar
Ouve-se música tamborilar
Ou talvez seja só um metralhar
Um grito corta a solidão
O súor tresanda, cheira a guerra
E a podridão!

07 julho 2017

Questões

António sente-se aflito, a sufocar,
Um calor lhe dá enorme mal-estar...
Vê em seu redor paredes a encolher
Olha a mulher, não sabe se quer crer!

O destino a isto lhe trouxe o viver:
Obrigações, o compromisso, o talher.
Seguir a regra, cumprir a normalidade,
Assim se deu o seu regresso à cidade.

Onde o porquê desta maldita ansiedade?
Olha a mulher e estranha a paternidade!
Acontece a vida e é ausente de emoção,
A culpa entranhada no olhar fixo no chão...

06 julho 2017

Luminosa

E Bia vai linda,
Redondinha de vida...
A sua imensa felicidade,
A jorrar maternidade,
Dá uma luz ao dia
Como há tempos
Pela Vila não se via!

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Relembrando:
http://balcaodopoema.blogspot.pt/2017/06/harshal-ve-bia.html

05 julho 2017

Rotina

Seguem animosamente os dias
Produtivos e conciliadores
Uma bebé se vai fazendo menina
E não há falhas nos amores
São tempos de muitas alegrias.

03 julho 2017

É Natal, a família vai à missa

A missa do Galo encanta.
Tudo é novidade,
A bengala que se precisa
Aconchega entre velas
E rezas e tradição
Mesmo à mão!
Aqui o frio não parece tão inóspito.
Sob o sorriso do Menino nascido,
Harshal sente-se agradecido.

02 julho 2017

Conversão

Da igreja se ouvem lindos cânticos
E um apelo mais forte, inexplicável,
Empurra um homem a sair da rua
Indo ao encontro de nova vida espiritual.
Assim se entrega à expiação
Na gelada sagrada pia baptismal...

01 julho 2017

É Natal, Lisboa luminosa

E é Natal, a vida ilumina-se
com a cidade
Entrando o frio pelos ossos
Alegremente

Rua Garret, in blogue 'Lisboa de Antigamente'