12 abril 2019

A luz

Tenho um lado negro em mim que é
delicado como uma jarra da mais fina porcelana
sensível à rudeza do toque mundano.
Finas e múltiplas rugas de instabilidade
se instalam na sua linda forma
mantida sobre um interior em chaga,
um ramo de maduras rosas vermelhas
alegram, momentaneamente, a tristeza
de toda esta delicadeza
até as suas pétalas se desfolharem,
lentamente,
chegam a corar de vergonha os seus ramos nus,
por vezes,
ou só um botão seco guardado entre páginas de um livro,
em memória.
Mas, sim, que o preto me carrega um luto da vida
a perda do que nunca tive,
tenho como que uma jarra cheia de ausências
procuradas no imenso universo das estrelas,
negro que também ele é!,
sabota os caminhos para o amor
talvez por ser exterior...
no desespero, procuro no espelho a rosa viçosa
mas de lá me devolve uma crítica espinhosa,
sem flor!,
e, assim, verto uma lágrima a salgar esta escuridão,
a dar o autêntico sabor ao momento,
enfim, a preparar o coração...

para a aceitação.