08 março 2017

51 A noite de fados



A Senhora mostra-se a descansar na porta da igreja
Aguardando calmamente o desabrochar das cantigas,
Está coberta de pedidos, que nos valha e nos proteja,
Continue hoje e sempre a ser nossa padroeira amiga.
Ainda a noite arrefecida irá mostrar toda a sua alma
Sem pudores nos sentimentos, sem máscara, despida...
Ontem louvou-se com arrebatamento, hoje é a calma,
O largo enche-se de gente, que a todos o fado convida.
O povo gosta da fadista e de toda a sua tristeza versada
Envolvida em suas vestes negras e brilhantes, estranhas,
Faz estremecer a aldeia e afugentar a vida desgraçada
Com a sua voz rouca puxada do fundo das entranhas.
Todo o céu estrelado se converte no preciso momento
Em que a guitarra vibra e geme o seu maior lamento,
Levantando bem alto as palmas que espantam o frio...
'Eh! Fadista!' Ouve-se na multidão o grito do elogio!

E sai o chouriço assado com pão e o tinto da terra.
Benditos!