05 fevereiro 2017

20 O pau de marmeleiro


Assim se cumpre a lei, assim é, se tem que ser...
Tirar o diploma da quarta classe e aprender a ler.
E vão os manos, seis, unidos qual grande rebanho,
Mas seguem descalços pela poeira e pedras do caminho
Tentam a sorte: 'Ti Maria, então hoje há bolinho?'
Entre muitas risotas, gritos, corrida e empurrão
Por outros passam e assim cresce a procissão
Rumo à escola alva, com a sirene já a chamar.
Apressa-se o passo, ninguém se atreve a atrasar...
Entra a professora Alice com os seus eternos azeites,
'Podem-se sentar!' Não vê crianças, só vê diabretes!
Impõe o respeito com três varadas bem assentes...
Marmeleiro de uma figa, que pau tão resistente!
'Responda, se faz favor!, a lição foi bem estudada?'
Que pontaria, nosso senhor!, toda a classe apavorada!
Calha a todos, num ou noutro dia, sentir o saber
Entrar pela espinha adentro com lágrimas a correr.
Mas no fim do dia, saltam berlindes e bola de trapos,
Bonecas de cartão, tudo pelo chão, uns alegres farrapos...
O futuro não existe, apenas o agora nas portadas sentado
Com um velho livro encantado e sob um lindo céu estrelado.