15 junho 2019

Ainda mulher (20)



O corpo pesado decidiu.
É hoje O dia e nada o pode contrariar,
é preciso acrescentar luz ao mundo
e encerrar tão prolongado estado fecundo!
Passos que se dão para lá e para cá
em corredores repetidamente percorridos,
há que ajudar a força da natureza a brotar.
Que faça o que tem que fazer!, pois se decidido está!,
e assim se molham os pés descontroladamente,
como um bébé,
precisamente!,
águas desaguadas tão bem ansiadas.
E o medo e a vontade dão as mãos,
juntam-se as dores e uma agulha na veia,
que será pior?,
por decidir ao vasculhar memórias velhas.
E o silêncio.
O silêncio em corpo imóvel, desobediente às ordens,
estático na dor,
o silêncio empurrando o grito para as profundezas do ser.
Até que uma sensação defecada acaba com tudo!
Corpo esvaziado.
Aliviado.
Moído.
Em felicidade espantada.