08 junho 2019

Ainda mulher (18)



As imagens sucedem-se incontroláveis, sobrepostas, terroristas. O rosto distorcido por um corpo que se contrai dolorosamente até se converter num rasgão assustador.  Inevitável. Como a morte. Previsto.
Gritos agudos de antecipação fervem, ecoam ondulantes pelos braços agitados pelo ar, incham as pontas dos dedos, imagem desfocada sobre som, a rebentar pulmões dentro de um lago de súor gelado. Onde a superfície? Está a acontecer e nada o pode impedir. A vida obriga. A vida sentida como nunca, inacreditavelmente física e temerosa.

A vida pela vida?

Um sol benevolente invade as persianas com a frescura da manhã, forçando os olhos a escapar ao desespero. Ainda não é o tempo.

Mas ele chegará.