12 maio 2024

Quintinha da Piedade


O meu jardim
é um sonho.
Fadas afadigadas com as suas varinhas de condão que espalham rastos prateados, sempre ondulantes,  de estrelas luminosas que encandeiam o sol que se entrecorta por entre a verde e densa folhagem destas árvores que me acolhem. Árvores, arbustos, relva, flores selvagens impressionistas, em amarelo e branco, encantando ora vastos espaços soltos ora com um tímido desabrochar por entre raízes poderosas e aventureiras que rasgaram o solo a espreitar a vida clara da frondosa copa centenária. O castanho da terra acama folhas douradas que se libertaram do abraço materno em voo borboleteado numa coreografia ritmada pela orquestra magistral do canto dos pássaros, canto que abriga o meu jardim alegremente, canto forte que se sobrepõe ao riso das crianças excitadas pelo ar fresco e perfumado da manhã. O lago, a água verde opaca, onde a tartaruga verde opaca- ou será um cágado?- se transparece e espanta um olhar que caia mais distraído, segue indiferente, lenta, silenciosa no seu caminho misterioso, distanciada da alegria dos patos com as suas crias a desenharem linhas molhadas. As galinhas e o galo com o seu afinado acordar citadino, as cabras e cabritos, ovelhas, porcos, o burro que fascina, o pavão espavoneando mil cores, magia de fadas condadas. 

O meu jardim 
é um sonho meu.