27 março 2024

A existência


Procuro o coelho cinzento no seu pêlo curto, redondo, temente, tremente sobre o estremecer da terra batida pelas minhas passadas pesadas.
Nada temas, nada tremas, coelho cinzento de pêlo curto e orelhas arrebitadas, redondos olhos espantados. Sou contigo sou com a terra sou com a brisa sou com as árvores sou com o brilho vibrante da relva verde que refresca o rebordo da estrada, onde te escondes e observas. Nada temas, nada tremas, sou una com o momento com o lugar com a terra sob as sapatilhas batentes. Respiro devagar, corpo neutralizado, os meus olhos redondos de espanto, também, observam-te, coelho cinzento. Numa carícia distante acarinham a existência a tua a minha a terra o sol o ar a chuva. Sossegas. Prossegues o teu ruminar na natureza o sugar do orvalho o retomar da vida. Esqueces-me. Prossigo na minha passada pesada pela terra tremida onde o sentido momentaneamente se fez sentido.