A bola

Tenho uma bola tão redonda

da punição

de sapatilhas empoeiradas, corro

Orfã

A tua luta terminou, enfim

funeral

Dobram os sinos num comandar musical do atirar da terra por sobre ti

do velório

Que poder mórbido move tantas vontades

Escondido

Escondo

sedenta

Sedenta de amor e farta de medo

assim me apresento a ti

O quadro

Tu

jazes

no centro

deste quadro sagrado

a ceifa

Ultrajados, estamos.

da queima do tempo

ponho mais tempo na fogueira não se vá esmorecer

corpo presente

A cama e a cadeira emparelham na perfeição

en garde!

Condenso uma semana de ausência num frasco de sumo natural

incredulidade

Não, não basta o querer

da navegação

É preciso baixar as velas da caravela,

um pouco de blush?

Entendo o espicaçar da vida na vaidade

lengalenga

Como está?

Vai-se andando. Piorando.

da lógica

           se

o tudo é AGORA

da necessidade

Não saber o que queres

da ilusão

Desenho flores coloridas dispersas por campos solarengos

impotência

Que mãos tão grotescamente inúteis são as minhas

hidratação

Vem disfarçado, como naturalmente acontece às almas acanhadas

dos filhos

são animalescamente expulsos do ventre

dos teus olhos

Já fui a menina dos teus olhos

da importância

Num rasgo de ostentação, ofereço-me um valioso abraço

a hora do chá

A mais pequena migalha apetece

do colar infinito

Entre cartadas e miolos de pão agraciados aos pombos,

alívio

Desenho memórias a lápis

raízes

Há esta raíz funda, robusta

xaile

Corre-te um arrepio pelo xaile

oxigenação

O silêncio também faz a tua presença.

do despropósito

Não há recuos no tempo.

descomandado

quando a mente perde o comando pelo cansaço

do não ser

Queria ser uma brisa leve e alegre

dos entretantos

o asfalto engole quilómetros de tempo que deixou de o ser

o cilindro

faço por impedir a realidade de se instalar com comodidade

rumores

Vem na noite fresca a embalar a folhagem densa das árvores

doutor, obrigada

doutor, obrigada

Vida!

a luta é desigual.

sem promessas

não, não há promessas. 

da desesperança

Escapa-se a claridade, uma fuga inesperada deixando ao desespero um túnel sem luz

O grande palhaço

Caracol encarnado e encarpelado numa gargalhada

do cantar

Cantar a espantar cantar a iluminar cantar a disfarçar cantar a alegrar cantar a enraizar cantar cantar

do medo

Quem não tem medo do apagão adjudicado à nascença?

do sentimento

A vida dá os seus basta!

do amarelo

Luminosamente solar

a sombra cai

Manchado

Assassina!

da sobrevivência

Fugimos da inexistência que persiste incansavelmente na sua perseguição criativa

mergulhados em marés de deveres em que a ciência nos engolfa com as suas ondas perenes de promessas probabilísticas religiosamente acreditadas

O armário

preto como a escuridão mais tenebrosa

permanece 

se velho e carcumido

permanece

Mãe

aprisiono-te numa palavra, MÃE,

Libertação

e atiro as palavras pelo ar