Ser mãe (31)

Tenho na minha mão

a tua pessoa

E na cabeça os ecos

Ser mãe (30)

Que responsabilidade sobre um futuro

Que não me pertence

Mas que me toca como se meu fosse!

Ser mãe (29)

Disfarça esconde

Como é assustador

Ter uma vida um futuro

Ser mãe (28)

São tantas as escolhas

E correm doidas

Sem certezas

Ser mãe (27)

Dá-me colo, filho.

Deixa-me aconchegar o meu desassossego

Ser mãe (26)

O dia da mãe enovelou na memória da filha
uma mescla a confundir emoções recentes,
alinhavadas apenas, sem a prova final.

Ser mãe (25)

Deixei de saber a vida sem ti
e a tua aparente fragilidade toca em cordas sensíveis
uns agudos repentinos,

Ser mãe (24)

Abres o pulmão e libertas a tensão
tão somente

Ser mãe (23)

Quando as tuas palavras ainda não o são,
o desespero derrete-me as forças

Ser mãe (22)

O teu choro entra no meu corpo
como uma corrente eléctrica
desperto de qualquer sonho num salto

Ser mãe (21)

A necessidade mútua é real
e transformadora
encerra em si a tranquilidade
e o sentido do meu mundo maternal

Ser mãe (20)

passa lento e ansioso
este tempo contado a minutos
o trabalho perdeu o cimeiro lugar

Ser mãe (19)

Estremeço.
Como saberei o teu rosto
entre tantos?

Ser mãe(18)

Deixo-te em mãos de toque estranho
escassas na maciez dada pelo amor
do sangue que é nosso

Ser mãe (17)

Tu nasceste

E eu renasci contigo…

Não sabia que era assim,

Ser mãe (16)

Toca a banda alegremente

tambores a rufar

passos a acertar

À beira alma

É do tempo, assim instável, voa o espírito
rente aos peixes no rio

Neura

O futuro rejubila em sonoras fantasias
faz-se real na magia do grande cinema
o écran engole a plateia faminto de gente

flor murcha

O corpo comanda a mente
às vezes é assim
soa estranho este diálogo

Ser mãe (15)

Ouço a tua doce chamada.

Mããã!

Existes!

Dependência

quanto nos bastamos é difícil dizer
da necessidade da apreciação alheia

O que faz falta

A ausência é pontual, não se atrasa um minuto
todos os dias ali está presente, à hora exacta

Guerra viva

às vezes é uma explosão
treme tudo, estilhaços atingem o mais doce ser

Ser mãe (14)

a cama é imensa como o oceano

ondula lenta, muito lentamente

no embalo do ser mais precioso

Quem os não tem?

Corre um rio, não, é mais um mar
é salgado, abundante, ondulante

Os estados da vida

carece um estado alternativo
em colchão amortecedor

sinfonias

O poder de Mozart
é avassalador

Ser mãe (13)

Dorme, dorme, meu bébé, dorme.

Dorme as delícias da mãe.

Violinação

O violino compreende as dificuldades da alma
chora, ri, grita, sussurra, exalta, acalma

Quem me espreita?

Quem és tu aí?
A colocares grades
no verso que deixei de querer

A entrega

Domingo fede
a partida pede
para não ir, ficar

Ser mãe (12)

Canção de embalar em cantar alentejano:

Meu menino pequenino

Grande amor me aquece o peito

bola de Berlim

Olh'á bolinha
sem creme, com creme, de alfarroba, ovo, chocolate, kinder
ainda bolacha americana, não falta nada

Marina de Vilamoura

Há esta alegria da luz contra o escuro do céu
brilha e a festa logo acontece em passeio lento

Observador

Os ventos ordenaram às marés obedientes
que arrastaram uma orla de algas viscosas

Ser mãe (11)

Olho as tuas mãos

e reconheço-as,
poderosas

Arde Monchique

O céu cinzento negro é ameaçador
avança enorme e baixa-se sobre as cabeças

Gaivoteando

Ardem os ombros sob o canto das gaivotas
Vêm espreitar curiosas e destemidas

Ar condicionado

Entro a abrir pelo bafo fresco adentro
um suspiro transpirado corre em fio

Ser mãe (10)

Reconheço-te nas tuas mãos.

Mãos grandes, espessas, quentes.

Tocam muito além da superfície,

Agosto

Sente-se o colar da garganta seca
numa urgência pulsada descoordenadamente

arte rupestre

Tento pintar o mundo com as palavras
pincelar visões, sentidos e momentos

Quadro?

agita-se a água do mar salgada e fresca

a banhar-me os pés de um azul forte,

ser mãe (9)

Vejo o Sol onde outros encontram inchaços
e olheiras e demais quês...
Uma luz forte que se desprende de ti,

A sabedoria do Universo

É tarde, nenhum barulho por aí se ouve.
Lá fora, os passarinhos dormem faz tempo

Amigo

dá-me a tua presença
por um bocado
calada ou não

sonhador

no aroma da terra molhada
cresce a calma no banco do meu jardim

Ser mãe (8)

É difícil dizer o olhar

da mãe que se deleita em ti,

anjo que desceste à minha vida.

O meu periquito

O passarinho voa aqui
saltita ali

Cegueira

A gravidade exibe-se
forte
no seu apogeu